31.10.15

"Copos de Leite"

"Abri as portadas do atelier e a fria manhã de outubro gelou-me as mãos. Da rua tinha visto as folhas amarelas dos “copos de leite”, resultado de muita água da ultima semana. Agacho-me. Com cuidado procuro os caules moles e arranco-os. As chuvas limparam a poeira e as folhas, nas estreitas varandas de há dois séculos, parecem frondosas plantas tropicais, coisas de Jardim Botânico.
Não passam de “copos de leite” tratados com carinho. “Tudo o que o amor toca torna-se frondoso”, disse a padeira enquanto me embrulhava um pão de mistura ontem à tarde sem eu bem perceber porquê. Jardinar, mesmo em varandas estreitas faz-me sentir dona da terra. Que espera ansiosa pela floração invernosa, para em ramos florir as jarras da sua amada."

30.10.15

"Minha Mulher a Solidão" | Clipping (Jornal de Negócios, Diário Notícias, Jornal I, O Observador, Jornal Hard Musica)

Ver
"Há livros que além de lidos merecem ser vistos, apalpados, observados, folheados para a frente e para trás, à procura dos pormenores que podem ter escapado. Eu sou um apaixonado pelo design gráfico, pelas maravilhas que se podem fazer em papel impresso. Manuel S. Fonseca, da Guerra e Paz, é um editor atrevido que aposta em obras especiais e é um apaixonado por Fernando Pessoa. No ano passado, fez uma edição de "As Flores do Mal", com capa em madeira gravada a fogo e fotografias de Pedro Norton. Este ano, surpreende de novo com a edição de "Minha Mulher, A Solidão", uma recolha de 47 textos de Pessoa nos seus diversos heterónimos em que a mulher e o amor são centrais - e que leva por subtítulo o delicioso "Conselhos A Casadas, Malcasadas e Algumas Solteiras". Manuel S. Fonseca faz anteceder a selecção dos textos sobre "o casamento, a intriga amorosa e a desregulação sexual", num prefácio que intitulou "Toda a Volúpia É Mental". Antes vem um poema de Eugénia de Vasconcellos, "Ele Falava Em Voz Baixa", e, antes ainda, logo no início, surge a reprodução de uma obra original de Ana Vidigal, uma técnica mista sobre papel. O livro tem capa dura, lombada solta, três tipos de papel da melhor qualidade, mais outro papel de jornal em seis pequenos cadernos espalhados pela edição, tudo isto mobilizando as artes de três impressoras diferentes - uma delas a fazer o acabamento manual e o encadernamento. O grafismo vem assinado por Ilídio Vasco, que trabalhou com afinco neste projecto com Manuel S. Fonseca. São 1800 exemplares, numerados, com um preço de venda de 55 euros. É preciso abri-lo, para se perceber a obra que aqui está. É preciso vê-lo para se perceber como esta é uma espécie de exposição ilustrada de uma parte da obra de Fernando Pessoa."
Manuel Falcão in A Esquina do Rio, Jornal de Negócios



Jornal i online

Diário de Notícias (por João Céu e Silva)
O Observador

Diário de Notícias (pormenor)
E ainda AQUI
(as imagens foram retiradas dos respectivos sites)


29.10.15

O meu texto no lançamento da obra de Fernando Pessoa, "Minha Mulher A Solidão"


INDICE DO CORTA E COLA

Em primeiro lugar gostaria de agradecer o convite do Manuel, estar na companhia da Eugénia e do Ilídio e a generosidade dos Pedros (Marta Santos e Norton), nunca me esquecendo da Sara.

Eu nunca dormi aqui. Mas as palavras do poeta dormiram na minha cama. Sorrateiramente dormimos juntos.

Conheci e conheço mal casadas e virgens que não amam a quem foram destinadas.

Estrangeiras, louras e homens, alguns imberbes outros não e morenas com a verdade sempre a martelar-me:
Tu é que não me amas.

Nunca te quis só para sonho, mas nunca me digas que me queres, que a mentira tem perna curta e tu nunca viste as minhas.

1920, 1, 19, 25, números de Março
5 do mês 4, 28 de Maio, 4 de Junho, 29 de Novembro,
e nove anos depois 29 de Setembro. São os números de Ophélia, coisa parca para tamanho encantamento.

Depois cai-se na vida, e a vida a engolir o que deveria sair, agir sempre para dentro até rebentar, comer a carta e o rascunho já que não te posso trincar o corpo, tudo transparente só para ti, opaco para mim, a dizer da mentira consumada, do desejo inacabado e do amor vexado.
Seduzir de olhos fechados, mãos atadas cabeça quente e corpo gelado. (dizem)

Dormiste o tempo todo comigo, mas não foi aqui, não sei do lugar.
Possivelmente os génios desprezam a carne.
Mas conta a lenda que...


Muito obrigada
Ana Vidigal

27.10.2015

E o texto do Manuel S. Fonseca (ler AQUI)
E o texto do Pedro Norton (ler AQUI)
E o texto da Eugénia de Vasconcellos (ler AQUI)

27.10.15

Hoje, às 18.30 na Casa Fernando Pessoa


"O que ando a ler" - Henrique Monteiro no Expresso Curto de 23.10.2015


"Talvez não devesse dizer que ando a ler um livro que roubei. Mas roubei-o à minha mulher e por motivos absolutamente ponderosos: primeiro, porque é um objeto lindíssimo; depois, porque é organizado por um amigo meu; terceiro porque é, essencialmente (já explico), do Fernando Pessoa.
Vamos a factos: chegou-me um embrulho com um cartão que me é dirigido. Nele, o editor, amigo e correligionário de blogue Manuel S. Fonseca pedia-me para entregar o livro à minha mulher. Eu, bisbilhoteiro, já por ela avisado que o livro chegaria, abri-o. E que vejo: um livro magnífico com o nome de Fernando Pessoa a ocupar obliquamente toda a capa, numa edição ‘Guerra e Paz’, com pintura de Ana Vidigal, poema de Eugénia de Vasconcellos e organização e apresentação do dito cujo Manuel S. Fonseca. Já era muito. Mas quando um amigo envia um livro cujo título é “Minha Mulher, A Solidão” e cujo destaque é “Conselhos a casadas, malcasadas e algumas solteiras”, solta-se a bisbilhotice numa deriva coscuvilheira, quiçá concupiscente (algo muito tratado no volume) e começa-se a ler. E a ver, porque a pintura de Ana Vidigal lá está. Já li o texto e o poema de Eugénia, a introdução (“Toda a volúpia é mental”) do Manuel, os ‘Conselhos às malcasadas’, de Bernardo Soares (heterónimo de Pessoa) e “A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa” de Álvaro Campos (outro heterónimo pessoano). O livro é dividido em seis “cadernos concupiscentes de corpo nu”, mas duvido que avance muito antes que a minha mulher o reivindique – com razão, ficando, desde já aqui a minha autocrítica pela locupletação ou uso indevido de um livro que será lançado terça-feira que vem na Casa Fernando Pessoa, por dois Pedros – o Pedro Marta Santos e o Pedro Norton, tudo malta do blogue Escrever é Triste o qual conta, esporadicamente, com a colaboração deste vosso criado."

23.10.15

Hoje na Folio apresento-me assim:



"eu só trabalho com achados e perdidos"
Tudo o resto são petit fours.
Não sei fazer mais nada, nem quero.Tenho imensas tesouras e cada vez pinto menos.
Mas penso muito.
Não empresto livros. Não sou flor que se cheire, choro bastante. Sou uma grande sonsa, o ócio é o meu luxo, mas treino continuamente a generosidade.
O que mais gosto em mim é a minha madeixa Sontag mas deram-me cabo da coisa quando me classificaram de peste grisalha.
Ainda querem saber o meu nome?


20.10.15

O futuro nunca é uma ameaça. O futuro é este instante, daqui a bocadinho


Ana Vidigal (2015)
Ana Vidigal é artista plástica. A pintura, a colagem e a memória do que se passa em casa e na infância estão no centro da sua obra.


Um verso de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. O problema é que viver é preciso. Quais são as dificuldades concretas do viver que acha mais preocupantes em Portugal?
O que acho preocupante em Portugal no ano de 2015 é que aqueles que beneficiaram de duas das melhores coisas da Revolução de Abril (a mobilidade social e o Estado Social) estejam agora no poder a desmantelar todas essas conquistas, impedindo, assim, que as gerações mais novas beneficiem do que eles beneficiaram e os fez chegar onde chegaram. E isso limita tudo e qualquer avanço, quer cultural quer económico.

Há 40 anos tivemos um Verão Quente, com o país a rasgar-se. Empresas e propriedades nacionalizadas, empresários a fugir para o Brasil. Que sequelas temos dessa fractura ideológica?
Eu tinha 15 anos e lembro-me muito bem do Verão Quente. Não foram só os empresários que fugiram para o Brasil. E se uns “fugiram”, outros, tal como agora, foram à procura de trabalho. Havia poucos profissionais liberais (não esquecer que só a classe mais elevada estudava e tinha acesso ao curso geral dos liceus e universidade). Muitos ficaram sem trabalho.

O que lembra do Verão de 75?
Esse verão foi passado, como sempre, na Praia Grande, em “clima democrático”. Cruzavam-se à beira mar o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Marcello Caetano, Rui Patrício, e o recém chegado, exilado político, Mário Soares. No resto do país reinava a histeria. Em Almada, a 18 de Agosto, o primeiro ministro Vasco Gonçalves, num discurso acalorado (dizem as más línguas que a BBC o passou sem som, tal era a coreografia facial) exortava as massas contra o “grande capital”, os burgueses e a propriedade privada.
Nós, adolescentes, entre “amores de praia que se enterram na areia”, jogávamos ao prego, usávamos creme Nívea e óleo Johnson e lamentávamos os privilégios perdidos. Ninguém sabia da existência do buraco do ozono. E ninguém imaginava um JSD alucinado como primeiro ministro 40 anos depois.

Também há 40 anos, o país recebeu 700 mil retornados, Angola, Moçambique e Cabo Verde tornaram-se independentes. Viveu a situação de perto?
Estive no Aeroporto da Portela nesse Verão. Famílias inteiras, vindas das ex-colónias, viviam no aeroporto. O que mais me impressionou foi o cheiro. Malas amontoadas e pessoas desesperadas. Com um ar alucinado alguém procurava uma mala onde tinha o seu diploma de enfermeiro. Dizia: “Tenho de a encontrar, tenho de a encontrar”. As pessoas comiam e dormiam em cima de cobertores. A melhor aluna da minha turma do 7º ano era retornada. Morava numa casa ocupada, em frente ao Museu de Arte Antiga. A dividir os quartos havia cordas e lençóis. No Vale do Jamor viviam os timorenses.

Acha o discurso: “Eles são todos iguais!” uma consequência banal do estado a que isto chegou? Ou considera que é grave e abre espaço a populismos?
Demonstra muita falta de informação e como consequência abre espaço a populismos. É grave.

Oficialmente saímos da crise. Com cautelas, uma parte da população recuperou hábitos anteriores à chegada da Troika. À esquerda e sobretudo à direita, disse-se que Portugal tinha vivido acima das suas possibilidades e que era preciso aprender a viver de outra maneira. Aprendeu?
Viver acima das possibilidades? Sempre achei essa afirmação ridícula. As pessoas vivem a tentar suprimir as suas necessidades. E mesmo que isso fosse verdade, seria justificado por dezenas de anos de políticas paupérrimas ao nível da educação, da cultura e da saúde e de uma geração morta e estropiada numa guerra colonial. Eu não aprendo nada com as crises, nem quero.

Continuemos o diagnóstico/retrato dos portugueses e do país: o que é que não fizemos nestes quatro anos e devíamos ter feito? Refiro-me às grandes reformas falhadas.
“Falam de tudo. Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reacções, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzisses, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos. Sobretudo falam do comportamento e falam porque supõem saber. Mas não sabem, porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente. Se sentissem não falariam.” (Nelson Rodrigues)

Se pudesse escrever uma carta a alguém, gritar alguma coisa (um insulto, uma advertência, um conselho, uma declaração) seria o quê e a quem?
“Liberté, Egalité, Fraternité”. Para quem me quiser ouvir.

Portugal vai ter duas eleições nos próximos meses. Os seus amigos: diria que estão mais alheados da vida pública, mais participativos depois dos anos de crise?
Tenho amigos em vários quadrantes políticos. Os meus amigos votam. Eu só peço é que sejam coerentes entre o que votam e o que fazem na vida. Não discuto política com os incoerentes.

Como é que explicaria a um jovem, que quer perceber o essencial, as diferenças entre a esquerda e a direita?
Concordam com adopção de crianças por casais do mesmo sexo? Concordam com a IVG por vontade da mulher SEM a obrigatoriedade de consultas prévias de “aconselhamento”? Se concordam, NÃO votem na direita. A direita neo-liberal que nos governa cheira a naftalina no que toca aos direitos LGBT e das mulheres. Nada pode ser dado como adquirido e é preciso votar na esquerda para garantir aquilo que tanto nos custou a alcançar.

O futuro passou a ser uma ameaça, evitar o perigo uma divisa. É mesmo assim? Quando foi a última vez que usou a palavra esperança?
O futuro nunca é uma ameaça. O futuro é este instante, daqui a bocadinho.

Matilde Campilho disse que a poesia não salva a vida, mas que pode salvar o instante. O que é que salva o seu instante?
A Irene.

Férias de Verão: dê-me uma recordação das férias de quando era criança. São um dos seus maiores tesouros?
O meu melhor tesouro é sempre o momento presente. No entanto, foram tempos muito bons. Três meses de férias na praia. Com o mar gelado e agitado. Lembro-me dos afogados. Acho que primeira imagem da morte que tenho é a de um corpo deitado na areia. Todos os anos íamos comprar chapéus de palha com uma fita azul escura numa chapelaria da rua das Janelas Verdes. Em Setembro a fita estava toda manchada, com veios brancos, como o mármore. Era do sal das cabeças molhadas. Lembro-me das minhas avós nas tardes do casino e da maquineta dos amendoins. Do banheiro com as pernas muito castanhas, dos toldos, do Sr. Franklin do café e do Sr. Alves da farmácia. Éramos besuntados depois da praia com Caladril que parecia gelado de morango.

Pode fazer um curto auto-retrato? 
Oh, isso daria um curto... circuito.


Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2015
E agora AQUI



9.10.15

Romã perdida nas Gaivotas | Gaivotas perdidas no Ãmor (minha Sónia linda)

No dia 24, lançamento do livro de Sónia Baptista 
,21h no bar Irreal e dias 30, 31 out e 1 de nov 
as duas peças da raposa ás 19h no Cão Solteiro e (outra peça) 
no Alkantara ás 21h30.